É
inquestionável o peso da inovação na sociedade do conhecimento, constituindo-se
como um elemento fundamental para o progresso social e económico dos países.
A transição, nos
finais do século XX, da sociedade industrial para a chamada sociedade do
conhecimento, trouxe consigo uma nova forma de vida para as populações e uma
nova forma de organização social, económica e política a nível global.
Essas mudanças
foram impulsionadas pelos avanços tecnológicos, como a internet e a
digitalização dos documentos, que permitiu uma revolução na forma de
comunicação, passando a ser de muitos para muitos e pelo fenómeno da
globalização, que permitiu, além de bens e capital, o fluxo de informação e
conhecimento. (Dávila Calle e Da Silva, 2008, p. 2)
Estão, a partir
daí, lançadas as bases para a democratização do conhecimento que, aliado ao
esforço dos governos para uma maior aposta nas pesquisas científicas, vão
impulsionar a criação de inovação e incrementar o desenvolvimento dos
países.
O conhecimento
passa a ser o insumo mais importante para a produtividade, provocando a
decadência do valor que antes se atribuía à matéria-prima para se passar a
valorizar mais o conhecimento embutido nos produtos. Gera-se a partir daí um
novo conceito de obsolescência, que na perspetiva de Fulks (2003) citado por
Calle Davilla e Da Silva (2008), vai ser gerada pela própria inovação.
Entretanto, esta
nova forma de organização social, a democratização da informação, os avanços
tecnológicos e o papel central que o conhecimento e a inovação passam a ter no
desenvolvimento das organizações e dos países, coloca grandes desafios aos
sistemas educativos.
Verifica-se,
na perspetiva de Carneiro (2001, p. 122), uma grande desproporcionalidade de
tempo na assimilação, organização e transmissão do conhecimento em face à
velocidade da produção e difusão da informação produzida hoje pela ciência. O que
significa que os nossos sistemas educativos, assim como estão organizados, não
conseguirão acompanhar o avanço das ciências, o que põe em cheque, os
conhecimentos transmitidos pela escola e a própria autoridade do professor.
Outrossim,
a própria filosofia da educação deve definir claramente, qual o caminho que
deve seguir. Se será a continuação com a atual filosofia de transmissão do
saber acumulado pela humanidade, com enfoque no ensino do conhecido, organizado
em disciplinas, que privilegia a disciplina, a autoridade do professor e o
código de conduta como imprescindíveis na ordem estabelecida ou, se optará por
uma filosofia com foco no aprender, educar para o desconhecido, para a inovação
e para a criatividade, que privilegia a espontaneidade, a transferência
horizontal de conhecimentos, em que se trabalha os valores da diferença e da
individualidade e fomenta a participação e criatividade na formulação de regras
de convivência (Carneiro, 2001, p. 124).
Não será certamente uma decisão fácil de se
adotar, desde logo, pelas dificuldades de se formar a pesada máquina de
professores e gestores educativos, a readaptação dos curricula e a reinvenção
de novas formas de avaliação. (Carneiro, 2001, P. 122)
Outrossim,
existe ainda um fosso enorme entre países, e mesmo entre famílias de uma mesma
comunidade, relativamente ao acesso às informações e às tecnologias, sobretudo
nos países subdesenvolvidos.
Isto
exigiria um pesado investimento na educação, desde a adaptação das
infraestruturas escolares, à sua infraestruturação tecnológica, à formação dos
professores e gestores educativos, à mudança dos curricula, a garantia de
acesso às tecnologias pelos alunos a qualquer hora e em qualquer lugar e,
sobretudo, à uma paulatina mudança de mentalidades, sobretudo da geração mais
antiga, normalmente mais cética relativamente às novas formas de ensino e com
maiores dificuldades na utilização das novas ferramentas tecnológicas.
Portanto,
será necessária uma verdadeira revolução dos sistemas educativos com custos
elevadíssimos, que certamente grande parte dos países, sobretudo os menos
desenvolvidos, têm dificuldades em suportar.
Vale
ressaltar que não será suficiente equipar as escolas com computadores,
substituir as lousas pelos tablets ou quadros interativos e continuar a ter uma
postura de reprodução (Pieczkowlki, 2013, min 8:30-8:45) se não houver
primeiramente uma aposta forte nos recursos humanos, sobretudo nos professores,
nos conteúdos interativos e na forma de ensinar e de aprender. O custo dessa
reforma será elevadíssimo. Mas será ainda maior para países que insistirem em
continuar a ensinar conteúdos ultrapassados, através de metodologias
retrógradas, com técnicas ainda rudimentares para alunos da era digital, com
novas formas de perceção do mundo e que vivem numa sociedade global em que são
exigidas novas competências. A aposta será inequivocamente nos quatro saberes
do futuro descritos por Jacques Delors, no Relatório “A Educação, um Tesouro a
Descobrir”, com grande enfoque para o aprender a aprender.
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