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segunda-feira, 11 de abril de 2016

Os reflexos da sociedade do conhecimento nos sistemas educativos

É inquestionável o peso da inovação na sociedade do conhecimento, constituindo-se como um elemento fundamental para o progresso social e económico dos países.
A transição, nos finais do século XX, da sociedade industrial para a chamada sociedade do conhecimento, trouxe consigo uma nova forma de vida para as populações e uma nova forma de organização social, económica e política a nível global.
Essas mudanças foram impulsionadas pelos avanços tecnológicos, como a internet e a digitalização dos documentos, que permitiu uma revolução na forma de comunicação, passando a ser de muitos para muitos e pelo fenómeno da globalização, que permitiu, além de bens e capital, o fluxo de informação e conhecimento. (Dávila Calle e Da Silva, 2008, p. 2)
Estão, a partir daí, lançadas as bases para a democratização do conhecimento que, aliado ao esforço dos governos para uma maior aposta nas pesquisas científicas, vão impulsionar a criação de inovação e incrementar o desenvolvimento dos países. 
O conhecimento passa a ser o insumo mais importante para a produtividade, provocando a decadência do valor que antes se atribuía à matéria-prima para se passar a valorizar mais o conhecimento embutido nos produtos. Gera-se a partir daí um novo conceito de obsolescência, que na perspetiva de Fulks (2003) citado por Calle Davilla e Da Silva (2008), vai ser gerada pela própria inovação.
Entretanto, esta nova forma de organização social, a democratização da informação, os avanços tecnológicos e o papel central que o conhecimento e a inovação passam a ter no desenvolvimento das organizações e dos países, coloca grandes desafios aos sistemas educativos.
Verifica-se, na perspetiva de Carneiro (2001, p. 122), uma grande desproporcionalidade de tempo na assimilação, organização e transmissão do conhecimento em face à velocidade da produção e difusão da informação produzida hoje pela ciência. O que significa que os nossos sistemas educativos, assim como estão organizados, não conseguirão acompanhar o avanço das ciências, o que põe em cheque, os conhecimentos transmitidos pela escola e a própria autoridade do professor.
Outrossim, a própria filosofia da educação deve definir claramente, qual o caminho que deve seguir. Se será a continuação com a atual filosofia de transmissão do saber acumulado pela humanidade, com enfoque no ensino do conhecido, organizado em disciplinas, que privilegia a disciplina, a autoridade do professor e o código de conduta como imprescindíveis na ordem estabelecida ou, se optará por uma filosofia com foco no aprender, educar para o desconhecido, para a inovação e para a criatividade, que privilegia a espontaneidade, a transferência horizontal de conhecimentos, em que se trabalha os valores da diferença e da individualidade e fomenta a participação e criatividade na formulação de regras de convivência (Carneiro, 2001, p. 124).
 Não será certamente uma decisão fácil de se adotar, desde logo, pelas dificuldades de se formar a pesada máquina de professores e gestores educativos, a readaptação dos curricula e a reinvenção de novas formas de avaliação. (Carneiro, 2001, P. 122)
Outrossim, existe ainda um fosso enorme entre países, e mesmo entre famílias de uma mesma comunidade, relativamente ao acesso às informações e às tecnologias, sobretudo nos países subdesenvolvidos.
Isto exigiria um pesado investimento na educação, desde a adaptação das infraestruturas escolares, à sua infraestruturação tecnológica, à formação dos professores e gestores educativos, à mudança dos curricula, a garantia de acesso às tecnologias pelos alunos a qualquer hora e em qualquer lugar e, sobretudo, à uma paulatina mudança de mentalidades, sobretudo da geração mais antiga, normalmente mais cética relativamente às novas formas de ensino e com maiores dificuldades na utilização das novas ferramentas tecnológicas.
Portanto, será necessária uma verdadeira revolução dos sistemas educativos com custos elevadíssimos, que certamente grande parte dos países, sobretudo os menos desenvolvidos, têm dificuldades em suportar.

Vale ressaltar que não será suficiente equipar as escolas com computadores, substituir as lousas pelos tablets ou quadros interativos e continuar a ter uma postura de reprodução (Pieczkowlki, 2013, min 8:30-8:45) se não houver primeiramente uma aposta forte nos recursos humanos, sobretudo nos professores, nos conteúdos interativos e na forma de ensinar e de aprender. O custo dessa reforma será elevadíssimo. Mas será ainda maior para países que insistirem em continuar a ensinar conteúdos ultrapassados, através de metodologias retrógradas, com técnicas ainda rudimentares para alunos da era digital, com novas formas de perceção do mundo e que vivem numa sociedade global em que são exigidas novas competências. A aposta será inequivocamente nos quatro saberes do futuro descritos por Jacques Delors, no Relatório “A Educação, um Tesouro a Descobrir”, com grande enfoque para o aprender a aprender.


Bibliografia



Bonilla, M. (2002) ESCOLA APRENDENTE desafios e possibilidades postos no contexto da sociedade de conhecimento. Tese de Doutoramento em Educação. Faculdade da Educação da Universidade Federal da Bahia. Disponível em https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/11704/1/Bonilla%20M%20H%20Parte%201.pdf
Carneiro, R. (2001) Fundamentos da Educação e da Aprendizagem. 21 ensaios para o século 21. O dilema de sempre. Disponível na plataforma http://elearning.uab.pt/pluginfile.php/359098/mod_resource/content/1/Fundamento-_o_dilema_de_sempre.pdf. Acedido a 14/03/2016.
Carneiro, R. (2001) Fundamentos da Educação e da Aprendizagem. 21 ensaios para o século 21. Velhos problemas, Novas soluções. Disponível na plataforma Carneiro, R. (2001) Fundamentos da Educação e da Aprendizagem. 21 ensaios para o século 21. O dilema de sempre. Disponível na plataforma http://elearning.uab.pt/pluginfile.php/359098/mod_resource/content/1/Fundamento-_o_dilema_de_sempre.pdf. Acedido a 14/03/2016.
 Dávila Calle, G. e Da Silva, E. (2008) Inovação no contexto da sociedade do conhecimento. Revista TEXTOS de la CiberSociedad. Nº 8. Temática Variada. Disponível na plataforma http://elearning.uab.pt/pluginfile.php/359096/mod_resource/content/1/caracteristicas_da_soc._contemporanea.pdf. Acedido a 14/03/2016
Documentário: a educação e os desafios do nosso tempo. Unowebtv (2013), disponível em https://www.youtube.com/watch?v=xKmzke6qH5A, acedido a 08/04/2016.
Gadotti, M. (2016) Educação Popular e Educação ao Longo da Vida. Disponível em http://www.paulofreire.org/images/pdfs/Educacao_Popular_e_ELV_Gadotti.pdf. Acedido a 10/04/16.
Mosé, V. (2013) A Educação na Sociedade de Conhecimento. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=vqkUWJINT_k, acedido a 08/04/2016.
Teixeira, F. (2010) INOVAR É PRECISO: CONCEPÇÕES DE INOVAÇÃO EM EDUCAÇÃO DOS PROGRAMAS PROINFO, ENLACES E EDUCAR. Dissertação de Mestrado em Educação. Universidade do Estado de Santa catarina. Disponível em http://www.tede.udesc.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=2211. Acedido a 8/04/2016.





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