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domingo, 17 de junho de 2012

Qual é a relação entre o processo de vinculação na infância e a resiliência na vida adulta


António Mendes Antunes
Aluno da Licenciatura em Educação na Universidade Aberta de Portugal, Unidade Curricular Psicologia do Desenvolvimento


Resumo:
 Muito se tem dito sobre a vinculação no processo de desenvolvimento humano. Ela é entendida como a necessidade do indivíduo em estabelecer relações afectivas com outros seres humanos. Varia em cada etapa de desenvolvimento e perdura ao longo de toda a vida. No entanto, ao falarmos da vinculação no processo de desenvolvimento humano, necessariamente devemos nos referir também à separação/individuação que responde à necessidade do indivíduo criar a sua própria individualidade. E, é da tensão desta com aquela, que favorece o desenvolvimento psicológico do indivíduo. Assim, pretende-se com este trabalho, no âmbito da cadeira de Psicologia de Desenvolvimento da Licenciatura da Educação da Universidade Aberta, focar o conceito da vinculação e analisar a sua relação com a resiliência psicológica, entendida como a capacidade do indivíduo em enfrentar situações adversas que surgem no dia a dia.

Palavras chaves: vinculação, resiliência, individuação

Introdução
Segundo estudos o processo de desenvolvimento psicológico decorre da tensão entre o processo de vinculação e o processo de separação/individuação. E, estes dois processos vão conhecendo nuances diferentes, dependendo da etapa de desenvolvimento  do indivíduo ao longo da vida. Porém, o processo de vinculação não é linear. Ele varia tendo em conta diversos factores, como por exemplo a cultura, a idade, etc. A necessidade de protecção e de afecto não são iguais entre um bebé de três meses e um outro de catorze. Do mesmo modo que é diferente entre uma criança pequena e um adolescente e, entre este e um adulto. Neste contexto, vamos nos centrar no processo de vinculação na infância e fazer a sua correlação com a resiliência na fase adulta.
 Vinculação

A vinculação é uma necessidade primária de todo o ser humano, assim como a alimentação e outras necessidades fisiológicas. Sem ela o desenvolvimento físico e psíquico da criança fica comprometido e pode mesmo levar à morte.O comportamento de vinculação resulta da necessidade do bebé de criar e manter relações de proximidade e afectividade com outros seres humanos no sentido de obter protecção e segurança. Esta relação é decisiva para o desenvolvimento da criança. O processo de vinculação inicia desde o período de gestação quando o casal começa a criar vínculos com o bebé, imaginando-o, desejando-o e criando espectativas e prossegue ao longo do ciclo vital.
Segundo Bowlby (1978), o bebé, ao nascer já está equipado com um número de sistemas comportamentais que fornecem as bases para o desenvolvimento posterior do comportamento da vinculação, prontos a serem usados logo ao nascer. São essas capacidades inatas (sucção, preensão, orientação, choro e sorriso) que permitem ao bebé estabelecer o laço de afectividade, primeiramente, com as chamadas figuras de vinculação, que são pessoas que estão mais próxima do bebé, normalmente os pais e principalmente a mãe biológica, que lhe garante protecção, segurança e conforto. Aos poucos vai-se alargando a outros membros da família e a outras pessoas.
 Do mesmo modo, a criança vai desenvolvendo capacidades perceptivas precoces de reconhecimento e de diferenciação e que lhe permite iniciar a sua individuação, fundamental para a construção da sua própria personalidade. O sentimento de segurança e de confiança que vai adquirindo dessa relação com a figura de vinculação, estimula a criança a explorar o meio que a cerca, a afastar-se das figuras de vinculação e a iniciar o processo de separação/individuação.

M. Fleming (2005)  explica a interacção existente entre o processo de vinculação e o processo de separação/individuação através das premissas do modelo a que chamou de dupla hélice de desenvolvimento: a) o desenvolvimento psíquico do ser humano resulta da tensão entre o processo de vinculação e de separação; b) estes processos estão activos durante todo o ciclo de vida e ocorrem em simultâneo; c) a vinculação corresponde ao processo de ligação afectiva a outros como meio de assegurar a sobrevivência; d) individuação corresponde ao processo de construção da indentidade; e) a articulação entre estes dois processos é diferente consoante o momento de vida e consequente etapa de desenvolvimento.
Pesquisas de Lorenz, demonstram que o vínculo que se estabelece entre o bebé e a figura de vinculação, a que ele chamou de “imprinting”, não deriva da satisfação das necessidades fisiológicas mas sim da necessidade inata de um vínculo social. A conclusão semelhante chegou Harry Harlow através da experiência com macacos, demonstrando uma vez mais que esse vínculo deriva não da necessidade de alimentos mas sim de afecto e de protecção.
Mary Ainsworth, distinguiu três categorias de vinculação de acordo com as suas observações: a vinculação segura, a vinculação evitante e a vinculação ambivalente/resistente.
Ao fazer esta distinção ela demonstra a importância das primeiras vinculações e que a sua qualidade influencia as relações que a criança vai estabelecer no futuro, designadamente com colegas e professores.
Assim, a ausência dessa figura de vinculação ou quando esse vínculo é deficitário, provoca sérias consequências nas crianças, que são duradoiras e muitas vezes irreversíveis.
Spitz ao estudar as consequências da privação do laço afectivo, concluiu que bebés apresentavam perturbações somáticas e psicológicas. Essas crianças apresentavam atraso no desenvolvimento corporal, dificuldades nas competências manuais e na adaptação ao meio ambiente e atraso na linguagem. Apresentavam menor resistência às doenças e em casos mais graves, a apatia.
Para Harlow, a privação desse contacto humano traduzir-se-ia em perturbações físicas e psicológicas profundas.
 Resiliência

A resiliência é entendida como a capacidade do indivíduo em enfrentar e lidar com situações difíceis. Boris Cyrulnick define-a como uma «arte de navegar nas torrentes». E sendo uma arte, é um processo, um caminho de desenvolvimento a percorrer.
É um conjunto de competências do indivíduo, de um grupo social ou de uma comunidade que permite gerir as circunstâncias da vida com sucesso e de forma adaptada. E estas competências podem modificar-se ao longo do tempo, conforme a variabilidade dos recursos internos e externos (do indivíduo, do grupo ou da comunidade), e a variabilidade dos riscos inerentes à vida, passíveis de provocar desequilíbrios e desajustes.
Portanto a resiliência pode ser aprendida desde a pré-infância e, segundo especialistas, está fortemente relacionada à auto-estima do indivíduo.
A base da teoria de vinculação postula que a ligação da mãe ao bebé, fundamenta o modelo das relações futuras do sujeito e influencia a sua competência social e desenvolvimento emocional ao longo da vida.
Ainsworth, ao distinguir a vinculação segura, a evitante e a resistente, demonstra que a qualidade desse processo virá a influenciar mais tarde o equilíbrio e a adaptação social.
Outrossim, as conclusões dos estudos de diversos autores como o Splitz, Harlow,  Bowlby, de entre outros, demonstram que quando o indivíduo é privado desse laço afectivo a uma figura de vinculação, o seu processo de desenvolvimento cognitivo, físico, biológico etc, ficam comprometidos, desenvolve apatia, baixa auto-estima, dificuldades de relacionamento, de entre outras consequências, que à partida, condicionam o indivíduo no desenvolvimento ou aprendizagem da resiliência. Ou seja, esses factores tornam o indivíduo menos resiliente ou estará menos apto a lidar com os desajustes e desequilíbrios inerentes à vida.
Em jeito de conclusão diríamos que o processo de vinculação é uma necessidade inerente a todo o ser humano e que é através da interacção/tensão entre este e o processo de separação/individuação é que resulta o desenvolvimento psíquico do indivíduo.
A vinculação, acontece ao longo da vida e é fundamental que, desde a infância, ocorra da melhor forma possível, pois fornece as bases de relacionamento emocional e de competências socias para o futuro. Poder-se-ia dizer que quanto melhor for o processo de vinculação, melhor preparado estará o indivíduo em demonstrar a sua resiliência perante situações menos favoráveis da vida.
Bibliografia
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